domingo, 9 de maio de 2010

O autêntico

Lendo "Clarice,", biografia de Clarice Lispector, escrita por Benjamin Moser, o autor levanta um ponto curioso: a semelhança entre Brasil e Rússia no tocante às suas literaturas. Vou entrar um pouco mais nessa comparação de um jeito subjetivo, porque não sei ser impessoal.
A primeira ideia é que são ambos países de dimensões continentais. Não conheço quase nada sobre a Rússia, a não ser aquelas bonequinhas engraçadas que saem uma de dentro da outra. Porém, imagino que assim como no Brasil haja uma distância (não somente física) considerável entre as grandes cidades e os interiores do país.
Moser explica que, aqueles que não conhecem os interiores, passam a conhecê-los por meio da literatura. Também sou ignorante à respeito dos escritos russos, mas essa afirmação me faz crer que a literatura russa era como a brasileira, nas palavras de Moser, esta "era prioritariamente uma literatura sobre o Brasil", não simplesmente feita por autores brasileiros.
Outro ponto de convergência interessante é o fato de que as elites dos dois países sofreram grande influência francesa. Agora chego onde queria chegar: a tal influência confere às obras literárias uma certa sensação de "segunda mão", uma imitação não muito bem-sucedida do estilo original.
Pela terceira vez, me desculpo por minha ignorância quanto à Rússia. E pela primeira, por saber pouco sobre o Brasil. O que li parou por volta da Revolução Modernista de 1922 - até onde, curiosamente, a literatura era comandada por imitações.
Isso me inquietou profundamente: será que vem daí a minha sensação de que o que é brasileiro é de, em geral, baixa qualidade, pouco autêntico? Tal sensação se estende à música (meu MP4 tem inegavelmente mais música estrangeira que brasileira), à língua (na minha cabeça, as palavras teimam em aparecer em outras línguas), ao jeito de me vestir e a quase tudo.
Aaah, que desabafo!

Pode ser que eu goste mais do autêntico: gosto de Los Hermanos, Paralamas, Elis Regina... mas não acho que o rock estrangeiro, sem muita inovação, caiba na musicalidade do português. Adoro Machado de Assis, endeuso o tom existencialista e desafiador de Clarice Lispector - são diferentes.
As coisas brasileiras não são todas de segunda mão. Mas quando conheço uma arte brasileira que seja realmente boa, me surpreendo. O que me falta é conhecer, explorar e dar chance ao que veio depois de 1922. Parei no tempo apenas? Paramos?

2 comentários:

  1. Faz intercâmbio. Você vai descobrir que até o forró do calypso tem sua autencidade e valor.

    :P

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  2. Nossa Lorys!
    Eu não acho que seja bem por aí... acho que em todos os lugares tem muita coisa boa e coisa ruim também!!! E dizer que a cultura brasileira, em geral, é de baixa qualidade... não sei não, aceito que tenham coisas muito diferentes e que tem muitas coisas que eu gosto e muitas que eu não gosto. Mas de jeito nenhum que as que eu não gosto são de baixa qualidade, são apenas de uma qualidade diferente da minha!
    O rock brasileiro pode não ser tão autêntico, mas vai dizer que existe samba mais autêntico que o nosso? =)

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